Carlos Henrique Araújo, mestre em sociologia, curador da Academia Brasileira de Política Conservadora
O suicídio civilizacional do Brasil está em pleno andamento, promovido por uma elite togada, partidos de aluguel, ONGs globalistas e um Estado cada vez mais cúmplice da destruição de tudo aquilo que ainda conserva algum resquício de sagrado. Eis o repertório do circo de horrores nacional: aborto, eutanásia, descriminalização das drogas, ideologia de gênero e a fragmentação da família. Hoje, este país serve de laboratório experimental para o chamado “avanço civilizatório” — na verdade, mera capitulação institucional ao projeto de liquidação dos valores ocidentais.
Essa agenda não emergiu do voto popular. Infiltrou-se sorrateiramente por decisões monocráticas, portarias administrativas e ativismo judicial que trata a opinião pública como incômodo menor. O Supremo Tribunal Federal, ao abrir as portas para o aborto de anencéfalos em 2012, transformou em rotina o desrespeito ao Parlamento e à sociedade, expandindo a lógica macabra do descaso institucional pela vida.
Passemos aos fatos constitucionais, relegados por progressistas e magistrados a notas de rodapé: Art. 226: “A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.” Art. 227: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, […] à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.” Art. 229: “Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.”
Está mais do que evidente: a proteção constitucional à família tornou-se mera peça ornamental em cerimônia cívica, enquanto projetos que promovem aborto, eutanásia e a destruição da identidade familiar avançam discretamente pelos corredores ministeriais. O chamado princípio da dignidade humana virou senha para institucionalização do assassinato dos mais indefesos.
O aborto se apresenta como direito — tristemente, o direito de matar quem não pode sequer gritar por sua vida. O STF, em conluio com lobbies internacionais, ignorou o clamor popular em 2012 e, agora, tenta empurrar o aborto irrestrito até a 12ª semana sem qualquer debate: um verdadeiro escárnio à democracia e à vida.
A eutanásia chega na surdina: pretexto para o descarte institucional de velhos e doentes, sob o disfarce da “dignidade”. No Brasil, já circulam portarias nesse sentido, ignorando o cheiro inconfundível de extermínio social e ausência total de compaixão. A liberação de drogas, vendida como símbolo de liberdade progressista, impõe às periferias e à classe trabalhadora uma tragédia de dependência, violência e dissolução dos laços familiares. O Estado, lavando as mãos, observa o povo provar, na pele, o amargor dessa libertinagem importada.
A tragédia é global. Veja-se a Europa: Holanda e Bélgica naturalizaram aborto e eutanásia e, agora, colhem explosão de depressão, suicídios juvenis e uma crise demográfica que ameaça sua própria existência. O Canadá legalizou a morte assistida e se vê acusado de pressionar idosos e doentes a abreviarem a vida para aliviar os cofres do Estado. Na América Latina, países que resistem à agenda — como El Salvador e Honduras — são demonizados, enquanto México e Argentina, que se entregaram ao disparate, enfrentam polarização, insegurança e perda de identidade cultural. O projeto de devastação é mundial, orquestrado por elites internacionais que enxergam na dissolução da família, da fé e da identidade o pré-requisito para consolidar sua tirania relativista.
É impossível compreender o ímpeto da cultura da morte sem perceber o ataque sistemático aos Dez Mandamentos. Rasga-se o “Não matarás”, pisa-se em “Honra teu pai e tua mãe”, elimina-se toda sacralidade da vida e da família — tudo milimetricamente calculado. Felipe Aquino é categórico: “Aborto? Nunca! Destruir uma vida é atingir o próprio Deus, especialmente quando se mata o ser humano já concebido no seio sagrado de sua mãe. Um crime hediondo que brada justiça aos Céus.”
Padre Paulo Ricardo reafirma: combater o aborto não é dogma religioso, mas fundamento mínimo de humanidade. “Fazer cessar essa barbárie chamada aborto não é uma exigência religiosa, mas uma necessidade civilizacional, um pressuposto básico de humanidade sem o qual é impossível ao homem elevar-se — inclusive para fazer uma experiência autêntica de fé.”
Olavo de Carvalho, crítico feroz dos engenheiros sociais, enxerga na destruição das famílias o projeto sistemático de empoderamento estatal e submissão popular: “A família patriarcal é uma fonte de poder: a história social dos dois últimos séculos é a da transformação do poder patriarcal em privilégio dos muito ricos, negado simultaneamente a milhões de bocós cujos filhos aprendem, na universidade, a festejar o fim do patriarcado como o advento de uma era de liberdade quase paradisíaca. O desenvolvimento inevitável desse processo é a destruição — ou autodestruição — das próprias famílias nucleares, ou do que delas reste.”
Jorge Scala denuncia o imperialismo da ideologia de gênero e do relativismo moral, motores centrais da desestruturação social e promotores do “novo totalitarismo”. Se o Brasil quiser sobreviver sem se tornar experimento social de burocratas desalmados, é preciso erguer um verdadeiro bloqueio moral, cultural e espiritual contra o cinismo institucionalizado. Peter Kreeft resume: “a verdadeira guerra cultural é entre a cultura da vida e a cultura da morte. Acima de tudo, a vitória pertence ao bem, porque o amor nunca desiste e a vida triunfará sobre a morte.”
Não se trata de teologia para pregadores: falamos da sobrevivência de uma civilização, do que faz uma nação digna desse nome. Defender a vida, a família e a fé não é missão só dos cristãos; é ato radical de sanidade civilizacional. Quem cala diante do assassinato institucional da vida, é cúmplice do mal. Quem contemporiza com a destruição familiar, assina a sentença de falência moral da pátria. Quem se curva à inversão constitucional, legitima a tirania judicial e a zombaria das elites globalizadas.
Que cristãos, conservadores e todos com pingo de decência se levantem. O Brasil não ruirá por falta de aviso, mas por excesso de silêncio cúmplice. O combate pela vida, pela família e pela civilização é agora. Negar isso é compactuar com o maior crime que será perpetrado em solo brasileiro: a institucionalização da morte.