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Moto Contínuo da Tragédia

Carlos Henrique Araújo, mestre em sociologia e curador da Academia Brasileira de Política Conservadora


No campo educacional, os governos petistas, até hoje, preferiram montar uma máquina assistencialista de distribuição de diplomas a elevar os principais indicadores da educação. Não deram, e não dão, a devida atenção à qualidade. Fizeram uma política quantitativa de distribuição de diplomas sem o correspondente em conhecimento e desenvolvimento de habilidades e competências úteis à vida produtiva das pessoas. O resultado geral é que não avançamos no preparo adequado da mão de obra para o mercado. Há uma legião de jovens, até diplomados, mas sem perícia, sem técnica, sem preparo profissional adequado. O fato torna o futuro da nação incerto.


No Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2022, o Brasil, em geral, teve desempenho abaixo da média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e ficou entre os últimos colocados na classificação global. Uma vergonha recorrente. A cada avaliação é constatado o nosso péssimo ensino. Em matemática, o país ficou em 64º lugar entre 81 países participantes. Em leitura, ocupou o 53º lugar e, em ciências, o 61º lugar.


De forma específica, uma das maiores mazelas do ensino tupiniquim é a falta de qualificação mínima em praticamente todos os níveis. E o desvio já começa na alfabetização das crianças. Com a aplicação, por opção ideológica, de metodologias não científicas de ensino baseadas em premissas chamadas de construtivismo ou linguagem integral, chegamos à terrível cifra de apenas 49% dos alunos do 2º ano do ensino fundamental, em 2023, alfabetizados em um nível elementar: liam palavras, frases e textos curtos, apenas localizando informações explícitas e inferindo informações em textos que articulam linguagem verbal e não verbal. Os dados são do Ministério da Educação (MEC) e mostram as profundas deficiências no ensino da leitura.


Segundo excelente relatório produzido no âmbito da Comissão de Educação da Câmara Federal, em 2003, intitulado “Grupo de Trabalho Alfabetização Infantil: os novos caminhos”: “o problema é que uma postura eminentemente política ou ideológica levou, em diversos países, e continua levando, no Brasil, a uma rejeição de evidências objetivas e científicas sobre como as crianças aprendem a ler”.


O neurocientista americano Steven Pinker afirma, em seu importante livro “Como a Mente Funciona”, que “lamentavelmente, a mesma história está se repetindo no ensino de leitura nos Estados Unidos. Na técnica dominante, denominada ‘linguagem integral’, a percepção de que a linguagem é um instinto humano que se desenvolve naturalmente foi deturpada, transformando-se na afirmação evolutivamente improvável de que a leitura é um instinto humano que se desenvolve naturalmente. A antiquada prática de ligar letras a sons é substituída por um ambiente social rico em textos, e as crianças não aprendem a ler”.

Não há dúvidas consistentes sobre o retumbante fracasso dos métodos construtivistas, pincelados pela militância freriana (Paulo Freire), aplicados no país. Ainda, no importante relatório citado, é dito que “revisões de trabalhos experimentais e empíricos incluindo mais de 38 estudos e 66 comparações específicas confirmam a superioridade dos métodos fônicos em relação aos demais”.


Entretanto, o PT, no poder, negligenciou a tarefa de instruir e concentrou esforços e recursos públicos para influenciar o conteúdo da instrução, visando moldar o estudante e repassar mitologias, clichês e visões reducionistas. Promoveram o movimento de fusão do sistema de ensino com um sistema de propaganda política e moral, elegendo a disseminação de teses, teorias e mitos de interesse do partido e de seus assemelhados.
Nada que não estivesse já na receita de Paulo Freire, que pregava a completa ideologização do ensino. Em seu livro “Pedagogia da Autonomia – Saberes necessários à prática educativa”, a recomendação é explícita e desavergonhada: “Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica”. (…) “A capacidade de penumbrar a realidade, de nos miopizar, de nos ensurdecer que tem a ideologia faz, por exemplo, a muitos de nós, aceitar docilmente o discurso cinicamente fatalista neoliberal que proclama ser o desemprego no mundo uma desgraça do fim do século. Ou que os sonhos morreram e que o válido hoje é o pragmatismo pedagógico, é o treino técnico-científico do educando e não sua formação de que já não se fala. Forma que, incluindo a preparação técnico-científica, vai mais além dela.”

Qualquer leitura atenta dos documentos normativos de educação mostra o ímpeto em instituir uma engenharia comportamental, usurpando o direito natural da família em moldar a moral de seus membros. O Estado brasileiro, sob o comando da esquerda, ultrapassou a fronteira entre instruir e doutrinar. É salutar reafirmar que a instrução escolar nacional de aspectos universais do conhecimento humano não pode estar afetada por óticas parciais, político-ideológicas e de interesse partidário imediato.

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