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Raízes da Ideologia Woke

Carlos Henrique Araújo, mestre em sociologia e curador da Academia da Direita

No Manifesto Comunista, escrito em 1848, Marx e Engels pregaram abertamente a destruição da família como uma das principais e decisivas armas dos revolucionários. Vale citar um trecho do manifesto em que essa estratégia se explicita por completo:
“Abolição da família! Até os mais radicais ficam indignados com essa infame intenção dos comunistas. Sobre que fundamento repousa a família atual, a família burguesa? Sobre o capital, sobre o lucro privado. A família plenamente desenvolvida existe apenas para a burguesia; mas encontra seu complemento na ausência forçada de família entre os proletários e na prostituição pública. A família do burguês cai naturalmente com a queda desse seu complemento, e ambos desaparecem com o desaparecimento do capital. Censurai-nos por querer abolir a exploração das crianças por seus próprios pais? Confessamos esse crime. Mas dizeis que abolimos as mais sublimes relações ao substituirmos a educação doméstica pela educação social.”

Mais adiante:

“E vossa educação, não é ela também determinada pela sociedade? Não é determinada pelas relações sociais nas quais educais vossos filhos, pela ingerência mais ou menos direta ou indireta da sociedade através das escolas, etc.? Os comunistas não inventaram a influência da sociedade sobre a educação; procuram apenas transformar o seu caráter, arrancando a educação da influência da classe dominante. ”

Trechos em que os autores comunistas atacam os fundamentos da sociedade ocidental são abundantes e chocantes. Há, inclusive, uma obra inteiramente dedicada a distorcer a história humana e acusar as famílias dos maiores absurdos possíveis. Ela se intitula A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. Friedrich Engels, parceiro intelectual de Karl Marx, o pai do comunismo, afirma nesse livro, de 1884:

“O desmoronamento do direito materno é a grande derrota histórica do sexo feminino em todo o mundo.” Para ele, “o homem apoderou-se também da direção da casa; a mulher viu-se degradada, convertida em servidora, em escrava da luxúria do homem, em simples instrumento de reprodução”.

Veja o germe do discurso feminista radical, aquele que envenena a complementaridade entre homens e mulheres, que passam a ser tratados como inimigos por natureza histórica. Se isso fosse verdade, jamais a sociedade teria se desenvolvido e a parceria natural entre homens e mulheres não teria gerado mais de oito bilhões de seres humanos. É isso que estão ensinando em sala de aula; envenenam nossos estudantes com teorias absurdas que pretendem apenas desconstruir, atacar e deslegitimar.

Ele continua dizendo que “essa baixa condição da mulher, manifestada sobretudo entre os gregos dos tempos heroicos, e, ainda mais, entre os tempos clássicos, tem sido gradualmente retocada, dissimulada e, em certos lugares, até revestida de formas de maior suavidade, mas de maneira alguma suprimida.” Ou seja, para um dos principais teóricos marxistas, a opressão do homem sobre a mulher suavizou-se, mas continua a dar as cartas da história. É uma visão puramente ideológica e que se constitui como o fundamento do feminismo e da ideologia de gênero; o germe ideológico do que estão ensinando nas escolas. Para quem duvida de tal estado de coisas, recomenda-se a leitura do livro A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. Certamente, constatará o ódio imensurável que os comunistas e socialistas dedicaram à família natural. Entretanto, nada disso é ao acaso ou fruto de mera ideologia. Marx pregou uma estratégia pensada e repensada para destruir sociedades e transformá-las em ditaduras do proletariado.

A estratégia de destruição da família e da religião foi desenvolvida ao longo das décadas por inúmeras escolas do próprio pensamento marxista. Gramsci, Escola de Frankfurt e o feminismo extremo são algumas correntes que detalharam os meios e formas de destruir famílias e fazer emergir um “novo homem” preparado para a implantação do socialismo e do comunismo. Para eles, é preciso calar a pluralidade, a dúvida saudável e substituir a linguagem, criando um ambiente onde proliferam mitos, inversões, clichês, destruição de reputações e conflitos forjados. Para o totalitarismo vingar, é preciso destruir a coesão social e as tradições da sociedade. Por isso, partidos autoritários tentam, repetidamente, calar a imprensa, dominar o sistema de ensino, estabelecer a voz única, enfim, a hegemonia decantada por Antonio Gramsci (filósofo, ideólogo e político italiano – 1891-1937).

Expedientes estratégicos semelhantes a esses foram utilizados para a conquista e manutenção do poder por fascistas, nazistas, comunistas e ditadores em várias nações. Hegemonia política significa que a voz do partido deve ser ecoada em todos os corações. Por isso, a propaganda desonesta, o marketing mentiroso, a idolatria por indivíduos, a falsificação da realidade e a reescrita da história, distorcendo o passado.

Vamos a outro exemplo. Simone de Beauvoir, em seu livro O Segundo Sexo: fatos e mitos, publicado em 1949, reforça a visão do feminismo radical de origem marxista e finca, de vez, as bases da ideologia de gênero ao atribuir a ideia de feminino não como algo dado por natureza biológica, mas como uma construção social perversa, feita por homens dominantes preocupados em oprimir as mulheres. A autora não faz propriamente uma filosofia, mas sim um panfleto feminista que serviria de receita para a luta de mulheres radicalizadas.

Apesar de sua controvertida biografia, simpatizante do nazismo e envolvida em casos de pedofilia, ela ficou famosa e influente em círculos intelectuais alternativos e, aos poucos, tornou-se dominante em sociedades que sofrem hegemonia esquerdista de pensamento. No Brasil, dominado pelos petistas, incrivelmente, seus panfletos chegaram até ao Enem: Exame Nacional do Ensino Médio. Vejamos uma pérola de seu pensamento:

“Poucos mitos foram mais vantajosos do que esse (o mito da mulher) para a casta dominante: justifica todos os privilégios e autoriza mesmo a abusar deles. Os homens não precisam preocupar-se em aliviar os sofrimentos e encargos que são fisiologicamente a parte da mulher, porquanto ‘são da vontade da Natureza’; eles se valem do pretexto para aumentar ainda a miséria da condição feminina, para denegar, por exemplo, à mulher, qualquer direito ao prazer sexual, para fazê-la trabalhar como um animal de carga.”

Marcuse, proeminente intelectual comunista, revela o poder da estratégia em seu Eros e Civilização de 1955:

“Sexualidade polimórfica (qualidade ou condição do que está sujeito a mudar de forma ou do que se apresenta sob diversas formas) foi a expressão que usei para indicar que a nova direção de progresso dependeria completamente de oportunidade de ativar necessidades orgânicas, biológicas, que se encontram reprimidas ou suspensas, isto é, fazer do corpo humano um instrumento de prazer e não de labuta.”

É o estabelecimento do vale-tudo para a vida sexual humana e sua consequente destruição. A promoção da desordem sexual é corrosiva. Os anos 1960 e 1970 foram profícuos aos revolucionários do sexo. Muitos conceitos absurdos, por eles inventados, tornaram-se hegemônicos entre as elites universitárias.

Veja o que diz Kate Millett, feminista socialista americana, em seu livro Política Sexual, publicado em 1970:

“Uma revolução sexual exigiria antes de mais nada, talvez, o fim das inibições e tabus sexuais, especialmente aqueles que mais ameaçam o casamento monógamo tradicional: a homossexualidade, a ilegitimidade, as relações sexuais pré-matrimoniais e na adolescência. Deste modo, o aspecto negativo no qual a atividade sexual tem sido geralmente envolvida seria necessariamente eliminado, juntamente com o código moral ambivalente e a prostituição”.

Ou:

“No contexto de uma política sexual, transformações verdadeiramente revolucionárias deveriam ter influência, à escala política, sobre as relações entre os sexos.”

Ou, ainda:

“Uma revolução sexual acabaria com a instituição patriarcal, abolindo tanto a ideologia da supremacia do macho como a tradição que a perpetua através do papel, condição e temperamento atribuídos a cada um dos dois sexos”.

Vejamos agora Shulamith Firestone, em seu livro de 1970, A Dialética do Sexo: o caso da Revolução Feminista:

“E assim como a meta final da revolução socialista era não só acabar com o privilégio da classe econômica, mas com a própria distinção entre classes econômicas, a meta definitiva da revolução feminista deve ser igualmente não simplesmente acabar com o privilégio masculino, mas com a própria distinção de sexos: as diferenças genitais entre os seres humanos já não importariam culturalmente”.

Tudo isso é a ponta do iceberg de uma guerra cultural antiga que a esquerda decretou contra os valores ocidentais e cristãos. Para comunistas e socialistas, os inimigos são a família, a propriedade e a religiosidade. Eles tentam revitalizar a hegemonia esquerdista chocando e avacalhando a normalidade. Pior, avançam cada vez mais com essas desconcertantes loucuras.

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